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O papel dos fundos de pensão e da tecnologia na poupança consciente

Por Alexandre Teixeira (*)

A alta da inflação atrelada à conjuntura econômica desfavorável levou à contração da renda do brasileiro e consequentemente ao aumento do endividamento das famílias. Os dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mais recentes, de julho deste ano, mostram que 78% das famílias brasileiras estão endividadas, e 29% estão com contas atrasadas. Este é o maior patamar em 12 anos, desde quando a pesquisa foi criada.

A despeito da alta dos preços, elevado nível de desemprego e juros mais elevados, que costumam compor um cenário recessivo clássico, o problema no Brasil é mais profundo. Na verdade, remete à falta de um planejamento financeiro dos brasileiros. Nós poupamos pouco e poupamos mal, sem nos preocuparmos com o futuro, seja para a aposentadoria ou para tempo de vacas magras como o atual.

Infelizmente, o hábito de poupar não faz parte do vocabulário de grande parte da população do país. De acordo com o Relatório Global do Sistema Previdenciário 2020, da seguradora Allianz, que avaliou a estrutura previdenciária de 70 países, cerca de 90% dos brasileiros com mais de 25 anos não poupam dinheiro pensando na aposentadoria. Para se ter uma ideia de comparação, nos EUA o percentual cai para menos da metade (40%).

A indústria de previdência complementar fechada, os chamados fundos de pensão, tem um importante papel para reverter esse quadro ao se aproximarem dos trabalhadores e demonstrarem o quanto uma poupança planejada de longo prazo pode trazer segurança. Este é um benefício exclusivo dado por empresas ou instituições para seus colaboradores ou por entidades de classe a seus associados que vão compondo patrimônio ao longo do tempo e, na aposentadoria, passam a contar com uma renda complementar ao INSS.

Hoje existem 274 EFPCs que administram um patrimônio de R$ 1,12 trilhão, com 3,77 milhões de participantes, segundo dados do Relatório Gerencial de Previdência Complementar, publicado pela Subsecretaria do Regime de Previdência Complementar (SURPC) em março deste ano. Entre dezembro de 2019 e dezembro de 2021, houve incremento de cerca de 670 mil novos entrantes, número que surpreende, por conta da crise sanitária vivida no período.

Entre os motivos desta alta, observa-se a criação de fundos instituídos, em que associações de classe e conglomerados empresariais criam seus planos previdenciários. Para se ter uma ideia, a população deste tipo de previdência, obteve crescimento de aproximadamente 40% entre 2019 e dezembro de 2021. O aumento dos contribuintes poderia ser muito maior se a população que tem acesso a este tipo de poupança conhecesse todos os seus benefícios.

Além de guardar recursos no longo prazo para aposentadoria, existem outras vantagens em participar de uma previdência complementar fechada, mas muitas delas sequer chegam ao conhecimento dos trabalhadores por falta de um canal acessível de comunicação, especialmente digitais, e de educação financeira. Lidar com uma grande quantidade de participantes e fazer com que a informação chegue a todos é um dos grandes desafios deste setor.

E é neste ponto que a transformação digital humanizada tem o que as entidades de previdência complementar fechadas precisam para mudar este cenário. Começando pela digitalização de processos, hoje ainda muito analógicos, ampliando e digitalizando canais de comunicações para aproximar os participantes das suas fundações e provendo ferramentais online para que os gestores façam a gestão dos ativos e passivos de forma ágil com tomadas de decisão baseadas em dados.  Dessa forma, os fundos de pensão tornam-se mais competitivos, incorporando inovação e tecnologia ao seu DNA para conhecer mais a fundo os diferentes perfis dos seus participantes e assim potencializam oportunidades com ofertas de produtos e benefícios direcionados ao que o público necessita.  

Um exemplo disso é a possibilidade de ofertar crédito de modo mais simples e digital, por meio de canais digitais já disponibilizados por algumas fundações. Em um momento econômico desafiador, como o que atravessamos, as EFPCs podem dispor de 15% do patrimônio, cerca de R$ 150 bilhões, em linhas de crédito pré-aprovadas para os seus participantes. Mas apenas 2,1% (R$ 21 bilhões) estão sendo empregados para esta finalidade.

Em um mundo cada vez mais tecnológico e veloz, onde tudo muda todo dia, entendemos que não se trata somente de informar, mas de confiar na informação, e fundamentalmente, de aproximar participantes e fundações para estreitar relacionamento e multiplicar oportunidades para ambos hoje, sem perder de vista o patrimônio que garantirá a tranquilidade amanhã.

* Alexandre Teixeira é CEO e cofundador da uFund, prevtech que tem como missão aproximar fundações e participantes.

Escrito por Higor Garcia